Tizanidina e Ciprofloxacino: Risco Grave de Hipotensão e Sedação

O uso simultâneo de tizanidina e ciprofloxacino pode levar a efeitos adversos graves - e muitos médicos ainda não percebem o quão perigoso isso é. Essa combinação, apesar de comum em consultórios, é uma das interações medicamentosas mais subestimadas e potencialmente fatais na prática clínica atual. A tizanidina, usada para espasticidade muscular e dor lombar, e o ciprofloxacino, um antibiótico frequentemente prescrito para infecções urinárias ou respiratórias, não são apenas incompatíveis: juntos, eles podem derrubar a pressão arterial do paciente a níveis de emergência e deixá-lo inconsciente por horas.

Como essa interação acontece?

A tizanidina é metabolizada quase inteiramente por uma única enzima no fígado: a CYP1A2. Isso significa que, se essa enzima for bloqueada, a tizanidina não é eliminada do corpo. Ela se acumula - e rapidamente. O ciprofloxacino é um inibidor potente da CYP1A2. Quando tomados juntos, o corpo não consegue processar a tizanidina. Estudos mostram que a concentração de tizanidina no sangue pode aumentar entre 10 e 33 vezes o normal. Isso não é um leve efeito colateral. É uma sobrecarga tóxica.

Quando isso acontece, os efeitos da tizanidina - que já incluem sonolência e queda da pressão - se multiplicam. A pressão arterial pode cair para menos de 70 mmHg sistólica, o que leva a tontura extrema, desmaios e, em casos graves, choque hipovolêmico. A sedação também se intensifica: pacientes relatam ficar completamente imóveis, incapazes de se levantar, com dificuldade para falar ou abrir os olhos. Em alguns casos, foi necessário internação na UTI para manter a pressão e a respiração.

Por que isso acontece com frequência?

A tizanidina é uma das medicamentos mais prescritos para dor nas costas - cerca de 7 milhões de receitas por ano nos EUA. O ciprofloxacino é um dos antibióticos mais usados para infecções urinárias, uma queixa comum, especialmente em idosos. Muitos pacientes têm dor lombar e, ao mesmo tempo, uma infecção urinária. O médico, focado em resolver a infecção, prescreve o antibiótico sem lembrar que o paciente já toma tizanidina. Ou pior: o farmacêutico não alerta, porque o sistema de prontuário eletrônico não dispara um aviso.

Um estudo da Universidade Vanderbilt, publicado em 2019, analisou mais de 100 mil pacientes e descobriu que quem tomava os dois medicamentos ao mesmo tempo tinha 43% mais risco de sofrer hipotensão grave. Isso não é uma coincidência. É um padrão. E o pior: mesmo com advertências da FDA e da EMA desde 2005, e atualizações em 2022, a combinação continua sendo prescrita. Por quê? Porque muitos profissionais não sabem, ou esquecem, que a CYP1A2 é a única via de saída da tizanidina.

Comparação: por que a tizanidina é mais perigosa que outros relaxantes musculares?

Não todos os relaxantes musculares reagem da mesma forma. A ciclobenzaprina, por exemplo, também é usada para dor muscular, mas é metabolizada por três enzimas diferentes: CYP1A2, CYP3A4 e CYP2D6. Se uma delas for inibida, as outras ainda conseguem processar o medicamento. O corpo tem um plano B. A tizanidina não tem. Ela depende só da CYP1A2. É como um carro que só funciona com um tipo específico de gasolina - e alguém tira esse combustível da bomba.

Isso explica por que a American College of Rheumatology e outros grupos de especialistas afirmam que a tizanidina é a única entre os relaxantes musculares com esse risco extremo quando combinada com inibidores da CYP1A2. Outros, como metocarbamol ou baclofeno, não têm esse mesmo perfil. Se um paciente precisa de um relaxante muscular e vai tomar um antibiótico, escolher outro medicamento pode evitar uma emergência.

Quem está mais em risco?

Não é só a combinação que importa - é quem está tomando. Pacientes com mais de 65 anos têm metabolismo mais lento e são mais sensíveis aos efeitos da tizanidina. Quem já toma três ou mais medicamentos para pressão (como betabloqueadores, diuréticos ou inibidores da ECA) está em risco multiplicado. A mesma pesquisa da Vanderbilt mostrou que esses pacientes têm até três vezes mais chance de entrar no hospital por hipotensão severa.

Pacientes com doenças crônicas - diabetes, insuficiência renal, cirrose - também têm maior risco. Seu fígado já está sobrecarregado. Adicionar um inibidor da CYP1A2 é como colocar uma carga extra em um motor já danificado. O resultado? Falha total.

O que fazer se já estiver tomando os dois?

Se você está tomando tizanidina e seu médico prescreveu ciprofloxacino, não pare o medicamento sozinho. Mas também não continue tomando os dois juntos. Entre em contato com seu médico ou farmacêutico imediatamente.

A melhor solução é substituir o ciprofloxacino por outro antibiótico que não inibe a CYP1A2. Opções seguras incluem:

• Amoxicilina
• Nitrofurantoina (para infecções urinárias)
• Cefalexina
• Trimetoprim-sulfametoxazol

Se não houver alternativa - e o ciprofloxacino for essencial - então a tizanidina deve ser interrompida por completo durante o tratamento com o antibiótico e por mais 5 a 7 dias após o término. Isso dá tempo para o corpo eliminar completamente o ciprofloxacino e restaurar a função da CYP1A2. A tizanidina pode ser reiniciada apenas depois disso, com cuidado e sob supervisão.

Como evitar isso no futuro?

Essa interação é evitável. Mas só se os sistemas de saúde e os profissionais agirem. Prontuários eletrônicos devem ter alertas automáticos quando um médico tenta prescrever ciprofloxacino para alguém que já toma tizanidina. Farmácias devem exigir confirmação antes de entregar. Médicos devem revisar todas as medicações do paciente antes de prescrever qualquer antibiótico.

Se você é paciente, faça isso: sempre diga ao seu médico ou farmacêutico todas as medicações que toma - inclusive as de venda livre, suplementos e remédios que só usa quando dói as costas. Muitos não consideram a tizanidina um “medicamento sério” porque é usada para dor. Mas ela é potente. E perigosa quando combinada com certos antibióticos.

Quais outros medicamentos devem ser evitados com tizanidina?

O ciprofloxacino não é o único perigo. Qualquer medicamento que iniba a CYP1A2 pode causar o mesmo efeito. Isso inclui:

• Fluvoxamina (antidepressivo)
• Propafenona (para arritmias)
• Mexiletina (para dor neuropática)
• Alguns antifúngicos, como o ketoconazol
• Café em grandes quantidades (a cafeína também é metabolizada pela CYP1A2 - e pode interferir)

Se você toma tizanidina, evite também chá verde em excesso, cigarros (a nicotina pode alterar a metabolização) e suplementos de ervas como o de gengibre ou cúrcuma - alguns têm efeitos não documentados, mas potenciais.

O que acontece depois de uma reação?

Quando um paciente entra no hospital por causa dessa interação, o tratamento é simples, mas urgente: parar os dois medicamentos, manter a pressão com soro e observação. A tizanidina tem meia-vida curta - cerca de 2,5 horas - quando o fígado está funcionando. Mas quando o metabolismo está bloqueado, ela pode permanecer no corpo por mais de 24 horas. A recuperação completa costuma levar de 24 a 48 horas. Em casos graves, o paciente pode precisar de suporte respiratório ou vasopressores.

Os efeitos residuais - cansaço, confusão, fraqueza - podem durar dias. E muitos pacientes não sabem que foi a combinação de medicamentos que causou tudo. Eles acreditam que foi a dor, ou o antibiótico, ou até “só idade”. Isso é o que torna essa interação tão perigosa: ela é invisível até que seja tarde demais.